EM PRETO E BRANCO

O motor do barco ronca suavemente preparando-se para dar a largada. Na água, Os jacarés e tuiuiús nos encaram, causando certa aflição. O sol da manhã refletido na água causa um espelho natural e o barco sai nas águas prateadas do rio mutum.
As árvores ao nosso redor correm cada vez mais rápido e tornam-se apenas uma sombra comprida diante de uma gigante nuvem que esconde o sol, tão branca quanto um chumaço de algodão. Os feixes de luz lançados por trás das nuvens douram suas beiradas de acordo com o sol que lentamente se põe. Ele, não o vejo, só o seu brilho me contenta e me ilumina a face.
As copas das árvores iluminadas geram um lindo efeito de cores e de luz. Os pássaros, que parecem voar mais devagar do que nunca acompanhando-nos quase ao lado do barco, fazem a trilha sonora do nosso filme. O cenário? A natureza.
Tento me conter, mas não consigo. Quase sem querer, meus dedos tocam a superfície da água e algumas gotas abraçam meu rosto. A água não está como o esperado. O calor acaricia a minha face, confortando-me. Acomodo-me, esperando que a viagem nunca termine e que o sol logo nasça para que possamos vê-lo brilhar.
Sinto que estou dentro de um quadro. Tiro uma foto e tudo fica parado. Eternamente, em preto e branco.

Alice Veríssimo de Assis